O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, que ficou conhecido como o serial killer de Goiânia e foi preso em 14 de outubro de 2014, completa 10 anos de prisão nesta segunda-feira (14/10). Apesar de ter sido condenado a quase 700 anos, ele pode ser solto daqui duas décadas, ou seja, em 2044.
Quando foi preso, o matador de Goiânia tinha 26 anos de idade. Hoje, ele está com 36 e pode ganhar a liberdade quando atingir os 56. Condenado por 35 assassinatos, entre vítimas mulheres e pessoas em situação de rua, Tiago viveu a última década numa cela isolada do Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
Como os crimes cometidos por ele ocorreram antes da mudança da lei que alterou o limite máximo do cumprimento de pena no Brasil, o serial killer está sujeito ao que era estipulado, até então, que é de 30 anos. Isso significa que, por mais que ele tenha sido condenado a centenas de anos de prisão, ele pode ficar preso pelo tempo máximo de três décadas, apenas.
Aprovada em 2019, a lei que ficou conhecida como “Pacote Anticrime” foi sancionada e entrou em vigor no dia 23 de janeiro de 2020. O texto estabeleceu um novo patamar de limite de penas privativas de liberdade no país, passando de 30 para 40 anos. Para fins de progressão de regime, no entanto, em casos anteriores à mudança, deve-se prevalecer a regra antiga.
“Se ele já cumpriu 10 anos, isso significa que atingiu um terço da pena máxima, conforme a lei brasileira. Isso pode mudar, apenas, em caso de nova condenação por algum outro processo posterior à mudança da lei, mas como ele está isolado, sem contato com outros detentos, a perspectiva é que, realmente, ele esteja livre quando atingir os 56 anos de idade, ou seja, muito novo ainda”, explica o juiz de Goiás, Jesseir Coelho de Alcântara.
Vítimas mulheres de 13 a 28 anos
Os assassinatos cometidos por Tiago, em Goiânia, desafiaram o trabalho da polícia. De janeiro a agosto de 2014, ele matou 16 pessoas, sendo 15 mulheres, de 13 a 28 anos, e um homem de 51. Ele ficou conhecido como o motoqueiro matador, que saía pela cidade de moto, em busca de vítimas em lugares, como bares, pontos de ônibus, praças, ruas e avenidas vazias, e até dentro de carros no semáforo.
Após a certeza de que havia um assassino em série na cidade, que agia sempre da mesma forma, sem roubar nada das vítimas, a Polícia Civil criou uma força-tarefa que durou dois meses até a prisão do serial killer. O trabalho minucioso levantou todas as características físicas dele e dos componentes da moto que utilizava, de forma que os agentes envolvidos identificariam, de primeira, se o vissem.
Todo o trabalho, no entanto, foi feito sem saber, ao certo, o nome e os dados pessoais de Tiago. O desafio era tão grande que 33 equipes policiais foram mobilizadas para monitorar as ruas de Goiânia. Para agilizar a possível prisão, a Justiça de Goiás expediu um mandado temporário sem o nome do suspeito, apenas com as características levantadas pela investigação, da seguinte forma:
“Um homem branco, com idade aproximada de 25 anos, aproximadamente 1.87 metro de altura, compleição física atlética, sem barba ou bigode, pelos no peito, rosto afilado, cabelos pretos, curtos e lisos e sobrancelhas grossas, que normalmente se veste bem, usa um capacete marca Taurus da cor Preta e utiliza a motocicleta Honda Fan 150 de cor preta equipada com freio a disco, lameiro com o símbolo da Honda e de tamanho médio, preso por presilha de alumínio e protetor frontal (mata-cachorro) bipartido e cromado.”
Da prisão à conclusão: “Altíssima periculosidade”
O tal homem procurado pela polícia foi preso no final da tarde de 14 de outubro de 2014. Coincidentemente, foi o mesmo dia em que a Polícia Civil de Goiás (PCGO) dobrou o efetivo envolvido na força-tarefa. O matador foi visto por uma das equipes passando de moto na parte norte da Avenida Castelo Branco. Os agentes o pararam e perceberam que estavam, enfim, diante do serial killer de Goiânia.
O homem foi levado para a delegacia e a história contada por ele foi maior do que a investigação imaginava. Tiago Henrique Gomes da Rocha era vigilante, já havia trabalhado para, pelo menos, três empresas de segurança terceirizada em Goiânia e confessou não só os crimes ocorridos em 2014, mas também assassinatos de anos anteriores, chegando a um total de 39 mortes. O caso teve repercussão internacional.
O laudo psiquiátrico feito pela Junta Médica do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), meses após a prisão, apontou que Tiago possui Transtorno de Personalidade Antissocial, mas que ele é “inteiramente capaz de entender o caráter ilícito” dos crimes cometidos e é considerado uma pessoa de altíssima periculosidade, com tendência a reincidir nos mesmos delitos:
“Adiantamos que não há indicação de nenhum tratamento em regime de internação ou sequer ambulatorial, haja visto que não há tratamento farmacológico e/ou psicoterápico eficaz para este transtorno psiquiátrico. Acrescentamos tratar-se de indivíduo com periculosidade altíssima, com tendência natural de reincidência nos mesmos delitos já cometidos, além de predisposição para o cometimento de crimes de outras naturezas”, apontam os médicos no texto do laudo. (Metrópoles)