
Uma nova medida interna da Secretaria Municipal de Educação de Valença, no Sul da Bahia, gerou indignação dos servidores e funcionários de unidades escolares do município. Trata-se da portaria nº 11/2025, que prevê o armazenamento de celulares durante o expediente, sendo liberado apenas nos intervalos e nos horários de entrada e saída. O documento foi divulgado na última segunda-feira (5).
De acordo com a portaria, os servidores deverão guardar seus celulares em local seguro previamente indicado pela Direção da escola, podendo utilizá-los apenas em casos de emergência ou urgência. A medida também prevê que, no início da jornada de trabalho, os dispositivos deverão ser guardados, sendo acessados apenas nos momentos autorizados.
Profissionais que precisarem manter os celulares por motivos justificados deverão comunicar previamente à direção, que analisará a excepcionalidade do caso. Apesar de ter o objetivo de garantir maior produtividade e foco no ambiente de trabalho, os profissionais alegam que medida apresenta diversos pontos negativos que têm gerado desconforto e críticas dentro da rede municipal de ensino.
Um dos principais questionamentos por parte dos servidores é a rigidez da norma. “Eu me senti pequena, constrangida, sem direito, sem poder cumprir meu direito enquanto cidadã. Já pensou chegar no local de trabalho e encontrar um saco, uma vasilha, para recolher celular”, disse uma professora da rede municipal, que preferiu não se identificar.
“Não tem como um professor ficar com o celular na mão, de papo, em redes sociais, já que isso é uma das queixas (da prefeitura), uma vez que as salas de aula estão superlotadas e com várias crianças com autismo, TDAH. É praticamente impossível um professor parar de dar aulas para estar em rede social, conversando ou brincando”, desabafou.
Há, ainda, a preocupação em casos emergenciais. Embora a portaria permita o uso nestas situações, a exigência de autorização prévia da direção pode ser impraticável, segundo os servidores. “Eu trabalho na zona rural. Se acontecer alguma coisa com um dos meus familiares, um dos meus filhos, ou um gato meu, o que seja, e alguém precisar ligar para mim, eu não vou poder atender, não vou saber do que está acontecendo”, afirma a professora. Ela sai de casa às 5h40, todos os dias, para dar aula na unidade de ensino que fica a 30 km de onda mora. Só retorna à própria residência às 19h.
Os profissionais também questionam o uso de termos que apresenta riscos de interpretações subjetivas, tais como “urgência” ou “sem prejuízo”. “Isso levanta o risco de abuso de autoridade ou perseguição em determinadas unidades escolares, especialmente onde já há histórico de conflitos entre gestão e servidores”, disse outro profissional.
Os profissionais alegam que a medida limita o uso pedagógico do aparelho nas salas de aula. “A gente está vivendo no tempo do cabresto. Daqui a uns dias, não vamos ter direito a mais nada. O professor utiliza o celular como uma ferramenta de trabalha. A gente não tem livro suficiente, temos cotas para tirar impressão, quando tem. Quando queremos dar uma aula diferente, a gente utiliza o celular para passar vídeos no YouTube porque na escola notebook à disposição”, disse a professora.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Valença, via assessoria, que afirmou que iria averiguar o caso. O espaço segue aberto. (Correio 24)