O Portal Ubatã Notícias entrevistou o ubatense Ramon Rodrigues, filho de Damião – figuraça de Ubatã – e Dona Conceição. Ramon hoje atua no futebol holandés, pelo Az Alkmaar, campeão nacional da temporada 2008/2009. Na entrevista, podemos acompanhar a história de um vencedor.
Redação: Como foi sua infância e adolescência em Ubatã?
Ramon: Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a vocês pela oportunidade de falar um pouco sobre a minha vida, e de saudar a minha cidade natal. Minha infância não foi nada fácil, sempre tive que lutar para ter algo. Acordava às 5h da manhã para ir ao colégio, e fazia um percurso de 9 km todos os dias caminhando. Meio dia voltava para casa, onde tinha que sair outra vez as 2h da tarde para treinar na escolinha de Zé de Aldo. Os treinos começavam as 15h30min e terminavam entre as 17h e 18h. Para mim não importava se o tempo estava bom ou ruim, o importante era treinar, muitas vezes vir minha mãe chorar preocupada por eu estar só, e com o horário que eu retornava a nossa casa. Minha família e Zé de Aldo por acreditarem em mim a todo instante foram os que mais me motivaram para que eu pudesse tirar tanta força, para não desistir desse sonho tão lindo.
Redação: E a carreira no esporte, como começou?
Ramon: Tudo começou quando eu tinha 12 anos, e o meu tio (Manuel) me levou para a escolinha em Ipiaú (escolinha de Bobo). Nessa escola passei um ano e meio. Treinava na seleção de Itagibá dia de quinta e sexta. Depois de um tempo, Zé de Aldo me convidou para treinar na sua escola, onde passei alguns meses e fui chamado para fazer um teste no Bahia. Nesse teste não fui aprovado, foi uma ducha de água fria, mas não desistir, continuei persistindo e logo depois veio a copa Uruçuca, e nessa copa novamente fui chamado pelo Bahia. Graças a Deus em menos de uma semana fui aprovado. Depois desse dia minha vida mudou completamente, isso não quer dizer que eu não tenha encontrado alguns obstáculos, mas acredito que essas coisas só servem para que possamos crescer e lutar por aquilo que queremos.
Redação: Você tem grandes amigos em Ubatã? Fale um pouco deles.
Tenho muitos amigos em Ubatã e admiro a cada um deles, mas tenho um em especial – Zé Azevedo (Zé de Aldo) – que foi umas das pessoas que me ajudou bastante a chegar onde eu cheguei, e sem contar que é um pai pra mim.
Redação: Você vem de uma família humilde, como foi chegar ao Futebol Europeu?
Ramon: Acredito que jogar em um clube Europeu é um dos maiores sonhos de um jogador. Chegar até aqui não foi uma tarefa fácil, é preciso muita dedicação, esforço, determinação… Passei pelo Bahia, lá fiquei três anos e meio, onde eu conheci o Richard, que me descobriu e que até hoje é o meu empresário. O Richard mandou um DVD para o Az Alkmaar e depois o próprio clube me convidou para fazer um período de estagio de vinte dias, em que disputei dois torneios pelo sub-23, depois desses vinte dias o Bahia recebeu uma proposta e ai começaram as negociações do meu passe. Eu tinha que fazer no mínimo sete jogos pelo profissional do Bahia, joguei os setes jogos, mas isso não foi o suficiente para ter o visto de trabalho aqui na Holanda. Com esse imprevisto, completei mais sete jogos no Itabuna pelo campeonato baiano, depois disso pude vim jogar pelo Az Alkmaar. As outras dificuldades foram passar a viver em um lugar onde você não conhece nada nem ninguém, a cultura, um clima muito diferente do que eu vivia no Brasil, com temperaturas que chegam a 15º negativos, a alimentação, o idioma nada fácil. O Az Alkmaar me ajudou muito, me colocando para viver em uma família holandesa, onde me acolheram muito bem e até hoje me ajudam.
Redação: De que forma o futebol transformou sua vida?
Ramon: O futebol transformou a minha vida em vários aspectos, hoje sou feliz por proporcionar a minha família uma vida melhor, e isso me deixa muito realizado, porque não existe nada melhor do que poder ajudar a nossa família.
Redação: No futuro, você pretende desenvolver algum projeto social voltado pra o esporte em Ubatã?
Ramon: Sim. Pretendo ajudar a escolinha onde eu fui descoberto.
Redação: Sonha em voltar ao futebol brasileiro? E a Seleção?
Ramon: Sim. Mas daqui a algum tempo, porque quero primeiro me estabilizar. O sonho de qualquer jogador brasileiro é jogar pela seleção brasileira, e espero realizar esse sonho.
Redação: Um recado para os Ubatenses.
Ramon: Um abraço a todos os cidadãos de Ubatã, que Deus abençoe a cada um de vocês, e gostaria de agradecer a cada uma das pessoas que torcem e vibram pelo meu sucesso.