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Endividamento das famílias bate recorde em abril e se aproxima de 80%

Foto: Divulgação

O endividamento das famílias brasileiras bateu recorde e se aproximou dos 80%. Atrás de um emprego, eles acordaram cedo, gastaram o dinheiro que não tinham com transporte, e vieram com o que têm de melhor. “Fé em Deus que vai dar certo. Estou procurando vaga para operador de máquina, prensista, auxiliar de produção, porteiro, qualquer uma”, diz homem na fila. Qualquer ocupação é uma escolha recorrente. “Tem conta para pagar, como todo mundo tem, né? Manter uma casa, comprar o que quer e pagar as dívidas, né?”, fala a recepcionista desempregada Tatiana Martins Soares Santos. Essas não esperam sem cobrar juros. “Eu tenho filho, pago aluguel, sou pai e mãe dos meus filhos. A gente pode passar necessidade – os adultos -, mas as crianças não”, conta a auxiliar de limpeza Fabiane Alves de Souza. Um quarto dos desempregados no Brasil está sem trabalho há pelo menos dois anos; mais tempo do que as finanças podem suportar. Esse é o final de uma longa fila, que pode ter começado em 2015, quando o desemprego no país dá um salto, ou nos últimos dois anos, com o agravamento da crise. Isso significa que boa parte dos candidatos a uma vaga sofre com o desemprego de longa duração, com impactos sociais, psicológicos e econômicos.

O número de famílias brasileiras com dívidas a vencer é o maior de todos os tempos. A conclusão é da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência. Em abril, 77,7% dos entrevistados tinham alguma dívida – no cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal ou prestação de carro e de casa. Há um ano, o total de endividados era de 67,5%.

“A inflação está mais alta, está mais persistente, tem afetado mais o orçamento das famílias. Além disso, os juros altos também impactam negativamente no orçamento e, com menos espaço para consumir ou para manter o seu nível de consumo, as pessoas estão recorrendo ao crédito”, enfatiza Izis Ferreira, economista da CNC.

O endividamento aumentou em todas as faixas sociais: 78,6% das famílias com renda até dez salários mínimos estão endividadas. Acima de dez salários, o nível de endividamento já passa de 74%.

“A necessidade de medidas de restrição de circulação pessoas e mercadorias afetou muito os trabalhadores, que dependem do trabalho para viver, mas também afetou empresários. Então, o impacto acabou sendo generalizado na sociedade”, explica Renan Pieri, professor de Economia da FGV-SP.

A inadimplência também alcançou o nível mais alto desde 2010: 28,6% das famílias têm dívidas atrasadas.

“Aparecem algumas vagas, mas as exigências são muito grandes. O jeito é tentar todos os dias”, diz Edson Ferreira De Novaes, trabalhador de manutenção predial.
Na média, 30% da renda dos brasileiros vão para dívidas, e essa fatura, todos nós pagamos.

“Dois terços do PIB é consumo; consumo é a grande força motora da economia e do crescimento econômico. Se as famílias se endividam mais e não têm perspectiva de um aumento de renda no curto prazo, elas vão acabar revendo seus gastos. Menos consumo gera menos demanda pelos produtos, as empresas têm menos incentivo para produzir. Então, você acaba gerando um ciclo ruim para a economia. Um país que não cresce é um país que não gera riqueza, em que as pessoas não conseguem melhorar o padrão de vida e a gente não consegue incluir os jovens no mercado de trabalho. Isso é um desafio”, reforça Renan Pieri.


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