Também há alguns anos, a turma da terceira idade de uma escola municipal, curso noturno, composta de mulheres, mulheres pobres, da terceira idade, garis, velhas donas de casa, que faziam parte da turma de alfabetização, tiveram uma festa de Natal surpreendente. A sua professora me pediu para fazer uma festa de Natal para as suas alunas em minha casa. Minha casa tem uma ampla varanda e ali a professora “armou” a festa. Com muita música, muita comida, bolos e, principalmente, presentes para cada uma de suas alunas.Você precisava ver o que é emoção genuína. Aquelas mulheres semi-analfabetas que não sabiam nem como iriam passar o natal, com dificuldades, muitas delas, para colocar comida na mesa no dia a dia, tiveram uma festa de gala. E agradeceram, com os seus trôpegos discursos, mas enaltecendo e levando às lágrimas a sua professora e a nós todos, com o sentimento e a emoção de agradecer com pobres palavras, o presente maravilhoso que estavam recebendo naquele dia dedicado ao natal. É evidente que não estou falando dos presentes que a sua professora conseguiu no comércio, pedindo, na cara-de-pau, colaboração de quem lhe aparecia pela frente para proporcionar às suas velhas e já desesperançadas alunas, uma festa que elas não esquecerão jamais.
Também para esta turma, a professora de quem estou falando, conseguiu um ônibus, acomodação, alimentação, enfim todos os ingredientes necessários para isto, e levou toda a turma para passar um fim de semana em Itacaré, com todas as despesas custeadas com promoções que ela fez, feita principalmente da colaboração das pessoas que conhecem a sua obra e a sua profunda dedicação. Todas tinham o sonho de conhecer Itacaré, sonho quase inatingível que foi conseguido através de sua professora.
Nesta semana, Ana Lúcia Leal Lopes, a professora de que meu falo, levou os seus alunos da classe de alfabetização, no dia, na véspera para dizer melhor, do dia da criança, para o que ela denominou de “A Noite do Soninho”. Foram todos dormir em sua casa. Na casa de Ana Lúcia. Ela conseguiu para os seus alunos carentes, mas muito carentes, presentes para cada um. E muitos pãezinhos, brigadeiros, moranguinhos, bolos, muita festa, muita luz,muitas brincadeiras, muita alegria e,principalmente, muito amor. As crianças adoraram. A festa rolou até quase as três da manhã.
Ela nos conta muitas estórias de suas crianças. Outro dia, num evento na sua Escola, uma menininha de quatro anos de idade surpreendeu Ana Lúcia, pois estava com lágrimas nos olhos, chorava. Estava tocando a Montanha de Roberto Carlos. A professora tentou descobrir, o que havia acontecido. Pensou que algum menino havia batido na menininha. Mas amenina nada revelou. Ao terminar a aula, antes que a garotinha saísse, Ana Lúcia a chamou e lhe perguntou o que tinha havido. E insistiu até que a garotinha lhe disse, que ela tinha se emocionado com a música que estava tocando. Com quatro anos de idade.
São muitas as estórias que Ana Lúcia tem para contar. Vou ficar somente nestas que narrei acima. Mas o que eu queria, era dar a minha nota para a professora. Num momento de nossa educação que a gente vê tanto descaso, tanto abandono, encontrar uma professora com tal dedicação, é coisa muito rara. E me emociona. Por isso eu quero lhe dar, Ana Lúcia, em nome de todos os seus alunos, das velhinhas, das menininhas, das crianças pobres a quem você tantas vezes proporciona um resgate de amor, de carinho, de compreensão e de dedicação, eu quero lhe dar Ana Lúcia Leal Lopes, a nota DEZ pelo seu desempenho humano no exercício de sua profissão.
Ubatã,14 de outubro de 2011.
PAULOCABRAL TAVARES