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Artigo: Da Raposa, das Uvas e de Esopo

Por Paulo Cabral - Advogado
Por Paulo Cabral – Advogado

Esopo era um antigo escritor grego. Discute-se se realmente existiu ou se os seus escritos são uma coletânea de muitos autores. Era um fabulista para alguns, ou seja, escrevia fábulas, histórias em que os animais falam e que têm um fundo moral, no final. Uma destas histórias que todos conhecem, entre outras, é a que conta o episódio da Raposa e das Uvas.

Certa vez, uma raposa com muita fome viu uma parreira muito carregada de uvas, claro. A raposa se encheu de desejos com a fome que estava e com as uvas que lhe pareciam apetitosas demais. Mas havia um problema para a raposa. As uvas estavam muito altas para ela poder colher e comê-las. Então começou a pular tentando derrubar as uvas. Mas, por mais que tentasse, não as alcançava. Por fim, muito cansada e vendo que não conseguiria os seus objetivos, desistiu, mas não se dando por vencida, apesar da flagrante derrota, disse: – Na verdade não valia a pena mesmo. Estas uvas estão verdes.

Apesar do óbvio, muita gente, depois de tentar colher as suas uvas na vida, para se conformar e não dar o braço a torcer, no final, diz que não valia mesmo a pena, porque as uvas estavam verdes. Quando o mais fácil e honroso seria admitir a derrota que não é o fim do mundo. Todo mundo tem na vida vitórias e derrotas. Perdas e ganhos. É consequência natural de quem vive e que tenta. Só perde o gol quem estava ali tentando fazê-lo e não é vergonha alguma, por falha humana, perder a oportunidade.

Certa vez, uma pessoa se referiu, falando comigo, a Dr. Euclides Neto, o grande advogado que militou toda a sua vida em Ipiaú e falava dele, como aquele advogado que nunca tinha perdido uma causa. A lenda também faz parte. E logo depois, eu li uma crônica de Euclides narrando uma derrota judicial para Dr. Almir em que ele falava da integridade do futuro juiz e depois desembargador Almir.

Todos nós temos vitórias e derrotas, qualidades e defeitos.

O próprio Esopo conta em outra fábula que nós quando nascemos, somos dotados de dois alforjes. Alforje é uma peça de couro que as pessoas usavam (hoje eu acho que está em desuso), constituído de duas bolsas de couro ligadas entre si por tiras também de couro que o cavaleiro atravessava na anca do cavalo e que serviam para levar coisas, principalmente a feira para aqueles que moravam na roça, compras ou qualquer outro volume.

Conta Esopo que nós trazemos atravessado nos ombros um alforje ao nascer, colocado de tal forma que uma bolsa fica na nossa frente e outra nas nossas costas. Na da frente a gente carrega os defeitos dos outros e na que fica nas nossas costas ficam os nossos próprios defeitos.

Assim, a gente nunca vê os próprios defeitos enquanto os dos outros ficam bem debaixo de nossos olhos. E pior, quanto mais o alforje que carrega os nossos defeitos está cheio e, portanto, mais pesado, o alforje dos defeitos dos outros fica cada vez mais perto de nossos olhos.

Esopo é respeitado no mundo todo. Viveu uns quinhentos anos antes de Cristo. Mas a sua sabedoria sobrevive até hoje para nos ensinar a viver e conviver melhor com as outras pessoas.


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