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Artigo: Amigo é para essas coisas!

Por Paulo Cabral Tavares - Advogado
Por Paulo Cabral Tavares – Advogado

Quando eu me sinto nocauteado pelas lutas diárias, às vezes tenho um sonho recorrente. No sonho, que quase sempre se passa em Salvador ou em uma cidade grande qualquer, eu tenho imperiosa necessidade de ir para casa. De chegar em casa.  Mas não encontro o caminho. Começo a andar em vielas, quintais, telhados, escadas em corredores apertados, escalando muros, sempre fugindo de um perseguidor, provavelmente um bandido. Ruas enlameadas, lugares cheios de marginais e por aí vai. Quase sempre em companhia de alguém que também não sei quem é, que quer me ajudar. Só sei que é preciso encontrar o caminho para chegar em casa onde tem alguém me esperando, minha mãe, minha mulher, filhos, alguém indistinto, numa imagem meio difusa que eu nunca distingo quem é. E nunca chego. Sempre acordo antes do final do sonho e muitas vezes num certo desconforto.

Aparentemente sem sentido, mas sei que deve ter algum. Os sonhos, dizem os psicanalistas, têm sempre algum sentido e o meu sonho recorrente deve ter também alguma razão de ser. Na vida existem, às vezes, situações em que a gente não tem como encontrar uma saída, não tem retrocesso e não tem caminho para prosseguir. Nestes casos seria bom que a gente pudesse fazer como nos sonhos, acordar e parar com a difícil situação. Mas a vida é diferente dos sonhos. A gente tem que encontrar o caminho. E é só com a gente mesmo. Não podemos (nem devemos) transferir para outros a nossa responsabilidade.

Júlio César Chaves, o extraordinário boxeador mexicano (ficou quase cem lutas sem perder uma), numa época de ouro do boxe, onde existiam grandes lutadores, dizia que quando o treinador tira o banquinho em que o lutador se senta dentro do ringue antes de começar a luta e que o gongo soa, não existe mais retrocesso, nem ajuda, nem nada. É somente com ele mesmo, o lutador e seu adversário.

A vida é assim, quando você ganha, quando você é vitorioso, todos estão ou querem estar junto a você. Primeiro, os amigos de verdade (que são raros) que se alegram e vibram espontaneamente; depois os simpatizantes; em seguida os oportunistas que querem tirar proveito de qualquer forma e finalmente os sem qualquer escrúpulo que sempre estão perto do poder, junto de quem ganha, seja lá quem for.

Mas se você é derrotado, se você perde, você não encontra nem um ouvido amigo para desabafar as mágoas, ou mitigar a dor. Apesar do poeta dizer que “amigos é pra essas coisas “, na vida real quase nunca ninguém aparece. É como se você contraísse lepra. Fazer o que? Juntar os cacos, disfarçar as perdas e partir para a superação, para a reconstrução. Arranjar um grude bom, para colar as peças semidestruídas e refazer a vida. Sempre difícil, mas sempre de possível reparação. Tirar proveito da derrota, aprender com ela e seguir em frente.  Buscando ajuda certamente em Deus. Se vier de outro modo, seja bem-vinda, mas é bom não esperar por isso. Conte com você mesmo.

Pode parecer até amargo. Mas não é. É a realidade da vida para a qual a gente tem que estar preparado.

A esperança é que a gente sempre cultive os sonhos. E que eles sejam bons. Para que se possa apenas comemorar e não precise juntar cacos e reconstruir o nosso caminho.


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