A morte de dois detentos do Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvador, na terça-feira (24) ligou o alerta para a presença da droga K9 dentro dos pavilhões do local. Na cela em que os dois presos que morreram estavam – e mais três passaram mal – vestígios do entorpecente, que chega a ser 100 vezes mais forte que a maconha, foram encontrados.
O caso preocupa especialistas que analisam o K9 como uma droga potente e perigosa. Carlos Duplat, professor e mestre em química, explica que o entorpecente é sintético se assemelha a maconha por causar efeitos parecidos. No entanto, alerta que o risco está no nível de impacto do K9 no organismo.
“O problema é que ela é 100 vezes mais potente do que a maconha. Ela deixa os receptores de endocannabinoides extremamente ativos. Sendo assim, as pessoas fiquem apáticas e com movimentos descoordenados, como se fosse um zumbi”, fala o professor.
Segundo o Sindicato dos Policiais Penais da Bahia (SINPPSPEB), é a primeira vez que se detecta a presença da K9 nos presídios baianos. No entanto, familiares de detentos da Mata Escura relatam que mais óbitos foram registrado por causa da droga. Procurada para falar do tema, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) não respondeu até o fechamento desta matéria.
Sobre a letalidade da K9, Marcel Tavares, farmacêutico, mestre em toxicologia, professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), analisa que os efeitos são variados e dependem das condições da exposição, como dose, via de administração e presença de outras substâncias. No entanto, confirma que a droga oferece risco fatal para usuários.
“O K9 causar alucinações, delírios, catatonia, paranoia, ansiedade, taquicardia e convulsões, agindo de forma aguda no organismo. Os cannabinoides sintéticos, geralmente, são mais potentes e podem desencadear reações imprevisíveis, o que pode resultar em uma série de efeitos colaterais, variando entre leves e potencialmente fatais”, explica.
As overdoses podem se tornar mais comuns porque, além de potente, o K9 é uma droga mais barata, podendo ser encontrada por menos de R$ 10. Para Carlos Duplat, o valor é mais um ponto de alerta porque aproxima pessoas em situação de vulnerabilidade mais perto do consumo da droga.
“A circulação do K9 é algo bem preocupante, já que as pessoas em situações de rua, em presídios, são bem vulneráveis a essa droga exatamente pelo fato dela ser extremamente barata e facilitar o seu acesso”, completa.
Tavares complementa destacando o risco do K9 pela dificuldade de identificá-lo. “Por ser uma droga relativamente nova, o diagnostico da intoxicação se torna mais dificil do que outras drogas mais comuns como cocaina e anfetaminas, assim como o tratamento”, alerta.
Os dois detentos que morreram pelo uso de K9 estavam no Conjunto Penal Masculino de Salvador (CPMS). Um dos dois foi encontrado já sem sinais vitais. O segundo chegou a recebe atendimento e foi transferido para um hospital, mas não resistiu. (Correio 24h)