Quem nunca ouviu dos pais ou de outro parente que não pode tomar nada gelado quando se está gripado? Mas esta contraindicação, uma das mais universais da crença popular, é também um dos maiores mitos segundo a medicina. O assunto voltou à tona após um médico ser desligado de uma UPA em São Paulo por receitar sorvete e Free Fire para uma criança gripada, e ainda causa muita dúvida nas redes sociais.
De acordo com a médica Livia Fonseca Santana, membra da Sociedade Baiana de pediatria (Sobapoe), não há qualquer prova científica de que ingerir água gelada ou sorvete faça mal para quem enfrenta um problema respiratório.
“Formalmente, do ponto de vista científico, não há nada que promova uma contraindicação. Mas a gente observa que as temperaturas mais elevadas, muito quentes ou muito frias, na ingestão de alimentos, por exemplo, podem trazer algum desconforto maior e de irritação naqueles indivíduos mais sensíveis a nível da retrofaringe, já acometida pelo vírus”, disse a especialista.
A possível associação popular entre o mal-estar e a piora da situação, alegou a profissional, é, efetivamente, um mito. A ingestão de tais alimentos ou bebidas em temperaturas mais frias, inclusive, pode ser muito bem-vinda no processo de recuperação, em situações de repouso ou em que a pessoa acometida esteja numa situação de desconforto.
Outro ponto esclarecido pela médica foi a confusão que há entre gripe e resfriado. Segundo ela, gripe é uma condição patológica causada pelo Influenza, enquanto resfriado, habitualmente, é causado por vírus como rinovírus e o coronavírus – de um topo diferente do que provoca a infecção pela Covid-19.
“A gente constuma chamar todos esses sintomas que acometem as vias aéreas respiratórias com coriza, obstrução nasal e um pouco de tosse, de gripe. Mas gripe é aquela situação que é causada pelo agente etiológico Influenza, que para ele temos vacina”, alegou Santana durante entrevista ao Bahia Notícias.
“Geralmente a gripe é uma situação de ocorrência sistêmica que acomete não só as vias aéreas respiratórias, mas também vai dar sintomatologia que envolve outras partes do nosso corpo, como por exemplo mal estar, dores no corpo inteiro e cefaléia. Pode evoluir para quadros mais severos de acometimento de vias inferiores”, pontuou.
O agravamento de uma infecção gripal, alertou a entrevistada, pode levar o paciente acometido à pneumonia, desconformto respiratório e provocar a ocorrência da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Ao BN, Santana também descreveu a ocorrência de resfriados. “São quadros mais leves, também com obstrução nasal, com tosse, mas, normalmente, com uma febre baixa. Não faz um acometimento sistêmico do indivíduo e tem uma curta duração”, alegou, ponderando que em alguns casos excepcionais a situação pode sim progredir para quadros mais graves. (Bahia Notícias)