A polícia de Goiás investiga um sequestro no interior do estado pago pela própria vítima no cativeiro. E o resgate foi uma fortuna em criptomoedas, o equivalente a quase R$ 50 milhões. As câmeras de segurança mostraram a invasão da casa, em setembro de 2020 em Anápolis (GO)(veja no vídeo acima). O casal é colocado dentro de um veículo e os criminosos também levam o computador deles. As vítimas são um empresário alemão e a esposa que, por medo, não querem ser identificadas. “Eles pediram para gente abaixar a cabeça e cobriram. Paramos em frente a uma casa. Dois deles saíram, tiraram o computador e voltaram. E então dirigiram por mais ou menos 15, 20 minutos. E nós chegamos em algum lugar no meio do nada”, relata a vítima. Assim que chegaram ao matagal, os sequestradores fizeram o pedido de resgate para própria vítima. Mas não foi dinheiro, carros, joias ou transferência bancária: eles pediram criptomoedas.
“Ele me disse se fizer algo errado e se não digitar os códigos corretos, vou matá-lo na hora”, relembra a vítima.
Eles queriam tudo em bitcoins – a principal moeda virtual do mundo. Quem tem moedas virtuais guarda no computador pessoal ou no celular, e só o dono tem a chave de acesso a elas. O empresário alemão tinha 555 bitcoins. E quem planejou o sequestro, parecia saber disso.
“Os criminosos detinham conhecimento tanto do quanto que a vítima possuía, quanto da qualidade desses ativos. Se tratavam de pessoas que já tinham havido um relacionamento com essa vítima”, conta o delegado de Polícia Jorge Bezerra.
Quatro horas depois, com a transferência concluída, o casal foi abandonado no local. A polícia fez o rastreamento nesses códigos que voam pelo ambiente virtual e o dinheiro, segundo a investigação, foi transferido para outros dois endereços. A partir deles, os bitcoins foram distribuídos por vários outros.
A polícia chegou às pessoas que estão por trás desses endereços. Um deles, segundo as investigações, é Edgar Acioli, um trader, pessoa que atua comprando e vendendo ativos financeiros nos mercados de capitais, e que chegou a movimentar parte dos bitcoins para o alemão este ano.
Com o rastreamento de endereços que receberam esses bitcoins, a polícia chegou então a dois núcleos. Em São Paulo, estão Edgar Acioli, um empresário ligado a ele e pessoas que receberam dinheiro virtual. Em Goiás, os responsáveis pela logística do sequestro e por armazenar o computador para garantir a transferência dos bitcoins.
Apreenderam joias, carros, mais de R$ 1 milhão e bloquearam imóveis, segundo a polícia, comprados com dinheiro da vítima, mas ninguém foi preso. Como já se passaram dois anos do sequestro, a Justiça entendeu que os suspeitos não teriam como atrapalhar as investigações.
Egdar Acioli já está preso por outro crime. Em nota, a defesa diz que Edgar desconhece os fatos, que vai se manifestar depois da conclusão do inquérito e que sequer ele foi ouvido pela polícia. (G1)